Pra falar desta tapeçaria que minha mãe bordou, gostaria de voltar um pouco no tempo e relembrar as visitas e participações no FloripaQuilt:
A primeira vez que vim ao FloripaQuilt, foi a convite de uma amiga, em 2014. A visita repetiu-se em 2015 e nos 3 anos seguintes, 2016, 17 e 18, participei com um grupo de amigas como expositora, num Stand. As meninas entraram com patchwork e eu entrei com bordados, uma arte que faz parte da minha vida desde os 5 anos, qdo ganhei minha primeira toalha, um presente da minha mãe.
Era um pano
com riscado simples, mas fiz tudo errado, bordei errado, pois pulava os risquinhos
e o que era ser uma flor, não tinha cara de flor. Minha mãe, com muita
paciência, me explicou como deveria fazer. Esse jeito de me ensinar foi a mola
propulsora pra gostar desta arte maravilhosa que é o bordado!
Aos 6 anos eu, meus pais e meu irmão nos mudamos para uma casa, uma grande casa de dois pavimentos. No andar de baixo ficava a Loja das Linhas, a primeira loja de linhas em Blumenau e eram meus pais que a gerenciavam. E ali foram dados muitos cursos de bordados, crochê, tricô, inclusive tricô à máquina. Minha mãe então passou a bordar bastante, e fez toalhas, quadros, e muito mais. Nós morávamos no andar de cima, mas como havia muitos ambientes, os cursos eram dados em dois grandes salões deste andar superior.
O ponto mais usado nos bordados era o ponto alemão ou ponto cheio, no cânhamo grosso ou fino. Um ponto singular, pois a base pra esse tipo de trabalho, é o tecido, e o tecido, o cânhamo, que tem tramas regulares, alinhadas de tal forma que exigem um bordado que ‘corre no fio’, na trama da fibra do tecido. Este tecido não é próprio para bordado livre, por exemplo, pois para ficar bonito, deve seguir a linha da fibra e o bordado livre aceita melhor tecidos de algodão, linho, etc.
Naquela
época ainda, minha mãe bordou um quadro em ponto cruz, contando ponto por ponto, no tecido específico para este ponto, ou seja, o Itamine.
O motivo eram duas japonesas. E emoldurou o trabalho. O quadro ficou enfeitando
nossa casa até ficar velho e certo dia minha mãe, achando o quadro feio, quis
jogar fora. Foi aí que dei um grito: “Não, não joga fora! Vc levou tanto
tempo bordando, é um tema tão bonito! Ele tem um valor inestimável, por todo
teu trabalho, teu tempo nele gasto. Se você não quiser mais, eu quero!”
Tenho o quadro até hoje! Tem um valor sentimental muito grande, pois minha
mãezinha deve agora estar bordando flores e ramos em lindas nuvens e estrelas no céu...
Mas antes de
partir para outro plano, ela enfatizou para nós filhos (tenho um irmão) e para
as netas, minhas filhas, que queria deixar uma tela bordada para cada. Quis
deixar uma tela para cada, como lembrança desta arte, que acompanhou sua vida
toda. Então escolheu quatro telas em
talagarça, daquelas com motivo já pintado, que necessitam de agulhas mais
grossas e lã. Ela usou as linhas que tinha em casa, era prática no
reaproveitamento de materiais, e como não tinha lã, usou as que tinha em casa. As linhas mais finas eram usadas em fio duplo. Bordou, emoldurou e deu de presente para cada um de nós.
E pediu foto
das telas penduradas nas casas de cada um!
Foi muito
bonito ver esse esforço de minha mãe, já com idade avançada, tecer cada ponto
cruz da tela, trocando as linhas na agulha, conforme a cor... Ela levou muito tempo bordando. Mas não se
importava com isso. O meu é um lindo e enorme buque de flores coloridas, com
girassóis no centro, papoulas e outras flores mais. As outras telas são uma
cabeça de cavalo, uma moça pintando no jardim e sendo observada pelo seu gato e
mais outra tela de um ramo de flores bem colorido.
Tramam-se os
dias nas fibras e no tecido da vida... costuram-se as horas com raios de luz do
sol... alinhavam-se tempos com pingos claros de chuva. E assim moldam-se as mais
belas artes que atravessam mundos e culturas. Que entrelaçam amizades, acalmam
as almas, colorem as visões.
Detalhe do ponto cruz com fio duplo |
Wonderful!!!
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