domingo, 22 de dezembro de 2024

Peter e Mingo (Helge Pantzier)

Estamos vivendo os últimos dias dos "200 anos de Imigração Alemã no Brasil" e, em homenagem, pra nunca mais esquecer, vou contar pra vocês um pedacinho, uma história rememorada pelo autor Helge, em seu livro "Uma viagem para nunca mais voltar".

De quando se criavam bichanos em casa, livres, leves e soltos: gatos e cachorros! Ao ler este texto, lembrei de nossas gatinhas de infância: Xereta, Teimosa e Mingo. Sim, tínhamos um Mingo em casa também! Muitos, muitos anos depois, meu filho trouxe da escola, para casa, uma gatinha ainda filhote e que chamamos de Bilú. Bilú morou conosco por lindos e afetuosos 17 anos... deixou saudades.

Recebi o livro das mãos de sua esposa, viúva, Marina. Helge escreveu, editou e publicou o livro, mas partiu para outra dimensão dias antes de autografá-lo.

O livro é uma gostosura de leitura! Tem momentos bem introspectivos, de fortes emoções. E outros muito divertidos, em que a gente se pega rindo sozinho! Ou mesmo lembrando, do tempo da Oma e do Opa, de como era a vida em certos lugares de Blumenau.

E conta Helge:

Bilú 'falando' com Táta


    Eu tive dois gatos quando era criança, o Peter e o Mingo. O primeiro foi o Peter. Quando eu vinha da escola de ônibus, ele sempre me esperava chegar. Eu tinha que atravessar a rua e depois seguir paralelamente ao muro, por uns sessenta metros. O Peter me acompanhava pelo lado de dentro do terreno, do outro lado do muro. Quando eu adentrava pelo portão, ele estava esperando por um afago e se possível queria ser levado no colo. Um dia ele apareceu todo machucado, sendo que já estava bem velho. Pouco depois desse episódio, ele morreu. Nós fizemos, então, um enterro solene. Cavamos um buraco e enterramos o gato fazendo preces e colocando flores na sepultura. A "Abelhinha" (amiguinha de Helge) participou da solenidade.

    Logo depois jogaram um filhote de gato por cima do nosso muro e eu o apelidei de Mingo. Cuidei dele desde pequenino e ele retribuía esse carinho. Da mesma forma, eu o ensinei a me esperar no portão. E assim ficou conosco por diversos anos. Foi o gato com o qual mais me identifiquei. Às vezes, quando devia estudar ou fazer a lição, eu aproveitava para ler algo que nada tinha a ver com a mesma. Sempre, desde muito criancinha, gostava de ler. Aos oito anos já lia a Revista das Seleções do Reader's Digest, a revista O Cruzeiro, o que existia de atual naquela época e tudo que me caia nas mãos. De vez em quando, a minha mãe vinha me controlar. O gato que também deitava no meu colo, quando minha mãe vinha pé ante pé, sentia que ela estava por vir e me alertava com um movimento brusco e um ruído característico. Assim alertado, eu rapidamente escondia a revista e continuava a lição. Apesar das fundadas desconfianças da minha mãe, o Mingo quase sempre me salvava da bronca. Um dia, para o meu grande pesar, ele apareceu morto. Tenho a impressão que foi devido a um acidente de carro. Mingo foi enterrado de forma ainda mais solene que o Peter. Este meu amigo gato deixou muitas saudades. (p.157)

Nosso Mingo



Sobre o autor: Helge Detlev Pantzier, nasceu no Brasil tendo convivido com uma das fases mais turbulentas do país. Dela resultaram grandes mudanças. Foi Auditor Fiscal e Procurador Geral da Fazenda de SC, professor em diversas universidades, como a UDESC, UFSC, UNISUL e ESTÁCIO DE SÁ. (...) Deciciu redigir sua biografia sobre um assunto muito pouco abordado pela literatura brasileira e que merece ser contada enquanto ainda é tempo, por quem presenciou os acontecimentos.











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