quinta-feira, 18 de julho de 2024

"Artesão Maçariqueiro - a arte do cristal em Blumenau" (Ricardo Gomes Lima)


Estamos vivendo os "200 anos de Imigração Alemã no Brasil" e não poderia deixar de mencionar um trabalho artesão de valor único, de simbologia característica da cidade de Blumenau; o Cristal! E foi no MAB-Museu de Arte de Blumenau, que me deparei com um livreto cujo conteúdo aborda a origem da indústria em Blumenau e a narrativa de dois artesãos que continuam nesta arte. 

"Artesão Maçariqueiro"...É um livreto de 28 páginas. Parece pouco, parece pequeno, sucinto. Só que não... porque nestas 28 páginas estão resumidas as vidas de pelo dois artesãos na arte do cristal: Elias Anaor Etur e Luciano José Ferreira. 

Ricardo Gomes Lima, o autor deste livreto, explorou muito bem tanto a origem, os elementos necessários, ou seja, a matéria prima e a confecção de peças em cristal. e tudo isso, num texto de fácil leitura e entendimento dos processos de fabricação.


De acordo com o Dicionário UNESP, do português contemporâneo, encontramos a seguinte definição: Cristal -  vidro de alta qualidade, de muita pureza e transparência, composto de sílica, óxido de chumbo e potássio.

O Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, nos diz o seguinte: Cristal (Lat. crystallu.) 1.substância sólida, cujas partículas constitutivas (átomos, íons ou moléculas) estão arrumadas regularmente no espaço.2.quartzo vítreo incolor.3.objeto de cristal.

Sua qualidade, tão significativa, é definida por muitas palavras usadas no cotidiano e nas ciências físicas e químicas: cristalinamente, cristalinidade, cristalino, cristalização, cristalizado, cristalizador, cristalizar, etc. Sua qualidade de translucidez, transparência, claridade, limpidez definem o aspecto de pureza, quando assim se deseja declarar sobre algo.


Segundo o autor, 'basicamente o cristal é um composto de areia de quartzo com baixo teor de óxido de ferro a que se adiciona barilha, como fundente, potássio e litargírio (chumbo). A areia sofre beneficiamento para a retirada do ferro e outros elementos considerados impurezas porque compromete a qualidade do cristal. É tido como um bom cristal aquele que apresenta alto grau de transparência, intenso brilho e forte sonoridade. (...)

Deve-se à qualidade da matéria-prima empregada na feitura dos objetos a diferenciação entre uma peça de cristal e de vidro. O cristal apresenta maior grau de pureza e ausência de materiais contaminados por outros elementos. Além disso, utiliza chumbo, que garante brilho, sonoridade e transparência às peças.(...)'

A transformação do composto de matérias-primas em objetos de cristal, mesmo nas indústrias é, em 
essência, manual. É o homem provido de habilidade que detém o conhecimento sobre a maneira de conduzir todo o processo e que dele se encarrega no desenvolvimento de suas variadas etapas.(...)

Mágicos, magistrais, quase sagrados, os gestos vão dando forma à massa disforme e viscosa que se revela em jarras, copos, garrafas, travessas, fruteiras, cinzeiros, variados objetos de adorno e múltiplas outras peças utilitárias e/ou claramente para decoração.(...)

Nesse sentido, o que ocorre em Blumenau pode significar um caso 'sui generis' que reverte o processo histórico  clássico. Ali, até a década de 1950 não havia artesãos que trabalhassem o cristal. Eles apareceram após o estabelecimento da indústria, sendo dela concorrentes. Transformada em escola de artesãos, a indústria forma mão-de-obra especializada que, uma vez afastada do trabalho fabril, se volta para desenvolver o ofício em oficinas de fundo de quintal onde o trabalhador passa a ter então domínio total sobre sua produção.



Esse é o processo narrado e vivido pelos artesãos que integram a presente mostra (mostra essa que aconteceu em 2007): Elias Anaor Etur e Luciano José Ferreira.'

E então Ricardo nos traz vivências destes dois artesãos do cristal, num aspecto de contemporaneidade, comercialidade, profissionalismo e autenticidade, originalidade de seu trabalho, em particular. Explica Elias:

'A gente identifica as peças da gente. Cada um tem um modo de fazer. O peixinho, por exemplo, eu começo aqui pelo lado dele. Já o Luciano começa pelo outro lado. Dá pra ver onde começou, o que fez depois e onde termina.'

Glass Park - Blumenau

Ricardo explica: 'O repertório desenvolvido pelos maçariqueiros é bastante  amplo.(...) Elias e Adriana vem desenvolvendo uma linha de jóias em que fundem folha de ouro ao cristal, resultando em peças de fino acabamento e de grande beleza.(...)

Em Blumenau, associa-se a origem da produção de objetos em cristal a uma descendente de alemães, Alice Hering, que importou a tecnologia da lapidação da Alemanha e, em 26 de setembro de 1951, abriu a primeira fábrica no município, a Cristais Oertel, posteriormente denominada Cristais hering Ltda.(...)

A partir dessa fábrica, outras indústrias do ramo cristaleiro surgiram no município, como Cristais Blumenau, fundada em 1967, Strauss (1983), Casarão dos Cristais (1993), Troféu de Cristal (1994), Glass Park (1998) e Vidro House Cristallerie Ltda.(2003), constituindo-se em verdadeiras escolas para artesãos que nelas adquirem conhecimento e gosto para mexer com o cristal.'

Glass Park - Blumenau


 








(Referência Bibliográfica: Artesão Maçariqueiro -a arte do cristal em blumenau, Rio de Janeiro: IPHAN, CNFCP, 2007. Responsável: Ricardo Gomes Lima)




Nenhum comentário:

Postar um comentário