terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Eu vou descê... lá pra BeCê...

Eu vou descê... eu vou descê... lá pra BeCê... 
Vou vê você... vou sim!!!

Ia quando era bebê
no DKWê do tio Fred

Ia pra Laranjê...iras
Na Rural do seu Ottê...





Depois eu vou subi                                        
Ponta de Laranjeiras - anos 70

O Rio Itajaí... 
Não tenho casa em BeCê
Tenho casa em Blumenauê...

Era uma vez. 
Mas continua sendo.




Colégio Agrícola - anos 70




Casa da amiga Maryê - rua 1100? anos 70

Eu vou descê... lá pra BeCê... 
De ônibus ou de trem, eu vou, eu vou te vê 
Mãe de Maryê fazia uma compota de beterrabas que eu adorava!
Se era sábado, a gente ia na Discoteca. Com certeza, essa não existe mais...
Em tempos anteriores, a gente ia no Cinerama Dela Torre
Era chique!
-Não podia faltar a pipoca, óbvio!
Hoje virou Galeria... dó.

Outro dia uma amiga, que mora em BC, na Barra Norte, me falou e mostrou do seu apartamento, que li embaixo, outrora passava um rio. Que havia água por baixo de todo aquele terreno... achei muito curioso, e me lembrei de tempos em que ia à Camboriú com meus pais.

Recentemente, ao abrir o computador, me vieram imagens, fotos, desta BC antiga, com o rio fluindo por trás dos primeiros prédios ali construídos. Estava assim, confirmado que me vinha na memória.

Havia um rio... (foto da Internet)

Houve época em que a gente até chamava de 'Cambú'... os anos passaram e acabou virando BC, simplesmente. O Hotel Marambaia, que aparece na foto, em formato redondo, era famoso por seu luxo e pelos concursos de Miss que sempre aconteciam ali.

Havia um rio... (foto da Internet)

Da memória me vem paisagens de viagens que fiz com meus pais e amigos de meus pais. E de um imenso rio (pra criança tudo tem proporções gigantes), que mais parecia uma lagoa, com uma pequena ponte que tínhamos de passar para chegar na casa dos amigos. Isso na década de 60 e comecinho de 70.

Meus pais Ingo e Janina (Yanka)


Uma das casas ficava na encosta da Barra Norte. Era de madeira e, pela primeira vez, vimos uma 'cozinha americana' com mais um balcão para se servir. Era um mobiliário inédito, coisa por demais sofisticada para a época: móveis aéreos, uma novidade. E um balcão no lugar da mesa. Todos ficaram maravilhados com a novidade. Chique demais pra época. 

Não lembro o nome dos amigos. Sei que o casal Goemann ( a esposa se chamava Emília) eram amigos de meus pais. Se a casa visitada era a deles, não sei. Mas este casal estava junto desta vez. Meus pais jogavam cartas toda quarta feira, com este casal. Uma vez na casa de um, outra vez na casa de outro. Morávamos todos em Blumenau.







Voltando à BC, doutra vez passamos de novo pela ponte sobre o rio, e na margem havia uma árvore muito grande e nesta árvore havia uma cobra muito grande. Ficava dependurada nos galhos... os homens pelearam até que conseguiram abater a cobra. Era venenosa. Levamos um susto ao vê-la, quase morri de medo. Ui!

Tia Lutzi, eu e meu irmão 

Já no Colégio, no Sagrada, as idas à BC se fizeram acompanhadas das amigas do Colégio. O pai de uma delas construiu uma linda casa de dois pavimentos, na Ponta de Laranjeiras e era onde íamos passar finais de semana muito divertidos. A parte inferior da casa era toda construída com blocos de pedra e a parte superior era construída com tábuas, com madeira. Simplesmente envernizada e com um super toque germânico. A mãe de Bê gostava de pintar cerâmica e vidros e fez todo um enxoval pra cozinha com pratos e copos pintados à mão. Tudo caprichado. E havia, nas paredes de todos os ambiente, muitas telas e quadros que ambas, mãe e filha tinham bordado. 

Ponta de Laranjeiras

Passávamos os dias nos banhando numa 'piscina', num recanto entre pedras que ficava logo abaixo. ou então fazíamos caminhadas entre o mato até chegarmos na praia de Laranjeiras. Havia muito poucas casas nesta praia. E a maioria eram de veraneio. 

Um caseiro cuidava da casa dos pais de Bê e mais outra que havia alí. O terreno era grande e precisava de cuidados com jardim, a casa e os cachorros guardiães. Assim, sempre tinha gente por perto.

Na frente da casa havia pedras enormes, de costão. E era onde tomávamos banho de sol, fazíamos pequenos piqueniques ou simplesmente ficávamos observando a lonjura do oceano. Tempos memoráveis! 

Eu vou descê... lá pra BeCê... 
No aniversê, no Novo Annê...
Só pra te abraçar, te felicitar, te desejar tudo de bom!
Prima, Tia, Amiga... tudo de bom pra você!






2005

Eu vou descê... lá pra BeCê...
No Morro do Boi é que tem
Água pra beber...

Tinha... tanto que faziam-se filas de carro e as pessoas enchiam galões e mais 
galões de água pura que corria por uma cano ali perto da BR-101.

Bem no topo do Morro do Boi...
Tempos. Era uma vez. Outras coisas continuam sendo.

Sempre tinha casa e abrigo em BeCê... 
Tios e amigos tinham casa ou apartamento
Se não tinham, alugavam...
E assim a gente reencontrava amigos e parentes:
de Blumenau, de Joinville, de Jaraguá, de São Leopoldo!
Era sempre muito divertido!
Tinha um tio que alugava a mesma casa, todos os anos,
ali perto do 'Tartaruga'... era um beco sem saída. 
Será que ainda existe?
A casa, com certeza, não existe mais!

Minha mãe, meu pai e tia Agathe (na casa alugada)



Ponta de Laranjeiras




Eu vou descê... lá pra BeCê...
30.11.2024 - Chegada Papai Noel, descendo da Praia Brava
Só pra te vê
E te desejar todo Bem!


OBS: Os nomes foram omitidos ou 
ficcionados (pseudônimo), respeitando 
a privacidade da pessoa.











domingo, 22 de dezembro de 2024

Peter e Mingo (Helge Pantzier)

Estamos vivendo os últimos dias dos "200 anos de Imigração Alemã no Brasil" e, em homenagem, pra nunca mais esquecer, vou contar pra vocês um pedacinho, uma história rememorada pelo autor Helge, em seu livro "Uma viagem para nunca mais voltar".

De quando se criavam bichanos em casa, livres, leves e soltos: gatos e cachorros! Ao ler este texto, lembrei de nossas gatinhas de infância: Xereta, Teimosa e Mingo. Sim, tínhamos um Mingo em casa também! Muitos, muitos anos depois, meu filho trouxe da escola, para casa, uma gatinha ainda filhote e que chamamos de Bilú. Bilú morou conosco por lindos e afetuosos 17 anos... deixou saudades.

Recebi o livro das mãos de sua esposa, viúva, Marina. Helge escreveu, editou e publicou o livro, mas partiu para outra dimensão dias antes de autografá-lo.

O livro é uma gostosura de leitura! Tem momentos bem introspectivos, de fortes emoções. E outros muito divertidos, em que a gente se pega rindo sozinho! Ou mesmo lembrando, do tempo da Oma e do Opa, de como era a vida em certos lugares de Blumenau.

E conta Helge:

Bilú 'falando' com Táta


    Eu tive dois gatos quando era criança, o Peter e o Mingo. O primeiro foi o Peter. Quando eu vinha da escola de ônibus, ele sempre me esperava chegar. Eu tinha que atravessar a rua e depois seguir paralelamente ao muro, por uns sessenta metros. O Peter me acompanhava pelo lado de dentro do terreno, do outro lado do muro. Quando eu adentrava pelo portão, ele estava esperando por um afago e se possível queria ser levado no colo. Um dia ele apareceu todo machucado, sendo que já estava bem velho. Pouco depois desse episódio, ele morreu. Nós fizemos, então, um enterro solene. Cavamos um buraco e enterramos o gato fazendo preces e colocando flores na sepultura. A "Abelhinha" (amiguinha de Helge) participou da solenidade.

    Logo depois jogaram um filhote de gato por cima do nosso muro e eu o apelidei de Mingo. Cuidei dele desde pequenino e ele retribuía esse carinho. Da mesma forma, eu o ensinei a me esperar no portão. E assim ficou conosco por diversos anos. Foi o gato com o qual mais me identifiquei. Às vezes, quando devia estudar ou fazer a lição, eu aproveitava para ler algo que nada tinha a ver com a mesma. Sempre, desde muito criancinha, gostava de ler. Aos oito anos já lia a Revista das Seleções do Reader's Digest, a revista O Cruzeiro, o que existia de atual naquela época e tudo que me caia nas mãos. De vez em quando, a minha mãe vinha me controlar. O gato que também deitava no meu colo, quando minha mãe vinha pé ante pé, sentia que ela estava por vir e me alertava com um movimento brusco e um ruído característico. Assim alertado, eu rapidamente escondia a revista e continuava a lição. Apesar das fundadas desconfianças da minha mãe, o Mingo quase sempre me salvava da bronca. Um dia, para o meu grande pesar, ele apareceu morto. Tenho a impressão que foi devido a um acidente de carro. Mingo foi enterrado de forma ainda mais solene que o Peter. Este meu amigo gato deixou muitas saudades. (p.157)

Nosso Mingo



Sobre o autor: Helge Detlev Pantzier, nasceu no Brasil tendo convivido com uma das fases mais turbulentas do país. Dela resultaram grandes mudanças. Foi Auditor Fiscal e Procurador Geral da Fazenda de SC, professor em diversas universidades, como a UDESC, UFSC, UNISUL e ESTÁCIO DE SÁ. (...) Deciciu redigir sua biografia sobre um assunto muito pouco abordado pela literatura brasileira e que merece ser contada enquanto ainda é tempo, por quem presenciou os acontecimentos.











sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

O mundo limpo da Rua São Paulo (Helge Pantzier)

Estamos vivendo os últimos dias dos "200 anos de Imigração Alemã no Brasil" e, em homenagem, pra nunca mais esquecer, vou contar pra vocês um pedacinho, uma história rememorada pelo autor Helge, em seu livro "Uma viagem para nunca mais voltar", cujo título é 'o mundo limpo da rua São Paulo'.

Recebi o livro das mãos de sua esposa, viúva, Marina. Helge escreveu, editou e publicou o livro, mas partiu para outra dimensão dias antes de autografá-lo.

O livro é uma gostosura de leitura! Tem momentos bem introspectivos, de fortes emoções. E outros muito divertidos, em que a gente se pega rindo sozinho! Ou mesmo lembrando, do tempo da Oma e do Opa, de como era a vida em certos lugares de Blumenau.

    Eu deveria ter uns sete anos. Pelo nosso jardim na Rua São Paulo no 70 e defront2e da Sodema, esta parte já possuía canalização, passava um pequeno riacho de águas totalmente transparentes e límpidas. A água vinha de um morro próximo e depois de passar por uma floresta, margeava uma rua dos fundos, mas continuava limpa, pois deste lado da rua não havia casas. Com um amiguinho, eu fiz repetidas vezes uma minúscula represa para que se formasse um laguinho. Quando vinha uma trovoada a água crescia muito e a represa sumia.

    Assim que as águas baixavam, construíamos novamente a represa, principalmente no verão.

    Tínhamos galinhas, patos, marrecos e, geralmente, um porco, além de gatos e cachorros. Eu cresci no meio desses bichos e aprendi a gostar deles.



    Minha avó, sabendo que as galinhas eram mais cuidadosas com seus filhotes do que as patas, fazia com que as galinhas chocassem os ovos das patas. Apesar de o choco dos ovos destas demorarem quatro semanas e não três, como o das galinhas, estas se desincumbiam airosamente de sua missão.

    Cuidavam para não pisarem os patinhos e os criavam com todo cuidado.

    Como já tínhamos assistido à cena antes, já esperávamos que a galinha desse seu primeiro passeio em direção à nossa pequena represa.

    Se fossem pintos, ela os orientaria para que jamais entrassem na água, pois seria a morte certa.

    Nesse caso, a mamãe galinha vinha conduzindo os seus filhotes patinhos com todo o cuidado até perto do riacho, para também orientá-los nesse sentido. De repente, os patinhos correram desabaladamente em direção à nossa represa e se jogaram na água. A mamãe galinha, que de forma nenhuma podia entrar na água, pois corria o risco de morrer afogada, ficava desesperada com seus degenerados filhotes. Cacarejava, fazia cruc, cruc, cruc para ver se chamava a atenção dos patinhos para saírem da água. No seu desespero soltava sons que eu nunca havia ouvido uma galinha soltar. Entretanto, os patinhos nem bola davam. O estresse da mãe postiça era total. Esta cena se repetia durante perto de duas semanas. Em determinado momento, a galinha não aguentava mais e simplesmente dava meia volta e ia ciscar noutra freguesia. Ela tinha aprendido que seus filhos estrnhos, depois de muito se banharem, voltariam das águas e pediriam abrigo sob suas penas.

    Neste mesmo riacho, de vez em quando, apareciam enguias. Eu saía correndo e avisava um adulto 

 capaz de pegá-las. Isto sempre dava uma boa refeição, bem diferente das demais. Da mesma forma havia piavas, alguns peixinhos maiores e de tempos em tempos um pitu perdido, o camarão de água doce. ninguém pegava os peixes, pois eram muito pequenos. Eu costumava jogar pedacinhos de pão na água para ver como, principalmente, os peixinhos os pegavam. A água era totalmente transparente. O capim crescia nas margens e minha avó colhia até agrião. Este riacho me ensinou muitas coisas sobre a vida dos bichos.

    Eu observava as formigas, os grilos, as libélulas, as minhocas, as aranhas com as suas teias e tudo o que se mexia. Como a água corria lentamente no meio das pedras, arbustos, bananeiras e por um tronco caído, havia um universo a ser observado.

    Então construíram as casas dos operários da fábrica de chapéus Nelsa à margem do riacho e mais uma série de outras casas sem fossa em uma rua que ficava aos fundos. Aos dez anos resolvi construir uma represa maior e senti que as mãos, depois de mergulhadas na água, ficavam ásperas. Os peixinhos haviam desaparecido, a água ficou turva, as enguias nunca mais voltaram e os pitus nem se fala. Esse mundo limpo e mesmo ingênuo havia desaparecido para sempre de nossas vidas.


Sobre o autor: Helge Detlev Pantzier, nasceu no Brasil tendo convivido com uma das fases mais turbulentas do país. Dela resultaram grandes mudanças. Foi Auditor Fiscal e Procurador Geral da Fazenda de SC, professor em diversas universidades, como a UDESC, UFSC, UNISUL e ESTÁCIO DE SÁ. (...) Deciciu redigir sua biografia sobre um assunto muito pouco abordado pela literatura brasileira e que merece ser contada enquanto ainda é tempo, por quem presenciou os acontecimentos.